Sem citar diretamente a polêmica sobre tortura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que estudantes e operários mortos devem ser tratados como heróis, e não como vítimas. "Toda vez que falamos dos estudantes e operários que morreram, falamos xingando alguém que os matou. Esse martírio nunca vai acabar se a gente não aprender a transformar os nossos mortos em heróis, não em vítimas", discursou Lula, em ato durante o qual assinou mensagem encaminhando ao Congresso projeto de lei reconhecendo a responsabilidade do Estado pela destruição da sede da União Nacional dos Estudante (UNE) e propondo uma indenização à entidade.
Lula disse que o Brasil não tem heróis. "A gente só lembra de Tiradentes. O Brasil tem muitas lutas importantes, mas nós não os cultuamos para dar valor ao que essas pessoas fizeram", disse. "Imagina se a Frente Sandinista (de Libertação Nacional) ficasse lamentando todos os que (Anastasio) Somoza matou? Imagina se o Fidel Castro ficasse lamentando todos os que o (Fulgêncio) Batista matou?", questionou o presidente.
O terreno na Praia do Flamengo, em que passou a funcionar um estacionamento, foi retomado pela UNE em 2007. A nova sede tem projeto de Oscar Niemeyer. "É importante que a UNE e a UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) articulem um projeto de convencimento dos deputados e dos senadores. O dinheiro está no fundo do Ministério da Justiça. A gente não pode dar porque senão vão vir muitos processos contra nós", disse o presidente.
Num discurso feito em tom de campanha eleitoral, Lula agradeceu aos estudantes pelo apoio da UNE aos programas Universidade Para Todos (ProUni) e Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (ReUni).
"Não consigo entender a cabeça de pessoas de esquerda, eram contra o ProUni porque diziam que iria nivelar o ensino por baixo. A minha alegria é que, depois de quatro anos, qualquer avaliação que seja feita sobre o ProUni tem entre os melhores alunos, em todas as áreas, exatamente aqueles que são os pobres da periferia, que eram acusados de nivelar por baixo". Apesar de ter recebido o apoio da UNE nos seis anos de governo, Lula disse que sua relação com o movimento estudantil nunca foi de cooptação.
Na época de adesão ao Reuni, o presidente lembrou que quase todas as reitorias foram invadidas por alguns grupos de estudantes, a pretexto de que o governo iria colocar muitos alunos por professores. "Nós queríamos aumentar a média de 12 alunos para 18 alunos por professor. Alguém dizia: é demais, vai baixar o nível, o ideal é que tivesse apenas um por cada professor", ironizou o presidente.
Até o final do segundo mandato, em 2010, Lula anunciou a entrega de 214 escolas técnico-profissionalizantes, 10 universidades federais novas e 48 extensões universitárias, além de uma universidade latina e outra afro-brasileira. "Jamais iremos pagar o que os negros prestaram de serviços com dinheiro, vamos prestar com gestos, com solidariedade, com reconhecimento, como estamos fazendo com os quilombolas", disse o presidente.
Além de Lula e dos ministros da Educação, Fernando Haddad, e Saúde, José Gomes Temporão, discursaram o secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, os governadores de São Paulo, José Serra (PSDB-SP) - que presidiu a UNE em 1963 e 1964 -, do Rio, Sergio Cabral Filho (PMDB), o ex-presidente da UNE em 1962, Aldo Arantes, a atual presidente da entidade, Lucia Stumpf, e o presidente da UBES, Ismael Cardoso.
Lucia lembrou que Lula foi o segundo presidente a visitar o local da sede da entidade, depois de João Goulart. "O gesto de hoje é carregado de simbolismo. Não foi à toa que a sede foi a primeira a ser atacada pelos militares", disse. Os candidatos à prefeitura do Rio Alessandro Molon (PT-RJ) e Jandira Feghali (PC do B-RJ) e de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT-RJ) estavam na platéia, formada principalmente por estudantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário